Uma história real
Ao colocar a chave na fechadura pareceu-me ouvir um barulho estranho dentro de casa. Algum vizinho, pensei, muito embora ainda mal se vislumbrassem os alvores da madrugada. Inseri a chave, fiz girar a lingueta e entrei, mas ao fechar a porta senti uma corrente de ar estranha. Alguma janela aberta, cismei, enquanto pressionava o interruptor da luz. A lâmpada fundiu-se naquele preciso momento, deixando-me gelado.
– Boa noite! Ou prefere que diga bom dia? – perguntou alguém rugindo.
Virei-me assustadíssimo, vi um vulto cheio de manchas, uns olhos verdes brilhantes, uma cauda malhada a saracotear-se de um lado para o outro. Tinha acabado de ser apanhado pela onça. E mais não sei dizer, com o medo vem o pânico, com o pânico a incapacidade de raciocinar.
Exigiu-me as jóias e eu dei-lhe. Exigiu-me o dinheiro que tinha e eu dei. Exigiu-me todos os bens que possuía e eu dei. Exigiu-me a vida e eu pedi-lhe uns anos. E foi então que descobri o quanto era malvada: pôs-me as patas no pescoço, arreganhou os dentes e com duas rápidas e terríveis mordidas devorou-me os braços. A seguir lambeu as patas e à saída, limpa e satisfeita, ronronou dizendo que voltaria.
Limpo as lágrimas com os pés e não sei bem o que fazer.
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