Uma aventura na Ilha de Tavira

Histórias de férias há muitas, mas as que nos acontecem têm sempre um significado especial. O caso que vou contar passou-se há cinco anos, quando a Primavera desapareceu levando o frio e a chuva, e o Verão se instalou sorridente. Eu tinha acabado de chegar a Tavira, terra de igrejinhas e de céu azul, de laranjais e rouxinóis, de uma ilha cheia de amores.
Apanhei o barco a meio da manhã e num piscar de olhos cheguei. O tempo estava doce, que é como quem diz, melhor não podia estar. Assim que cheguei à praia da Ilha de Tavira, uma das mais belas de Portugal, percorri o caminho que nos conduz à praia. É de lugares como aquele que se ganha inspiração: praia azul, água limpa, areia branca, gente bonita. Pus-me a ler, despreocupado que nem um passarinho de papo cheio. A páginas tantas apeteceu-me mais, assaltou-me a ideia de ir até à zona do nudismo dar um mergulho. Deixei a toalha e as minhas coisas no local onde estava, e lá fui, com a alegria e a aventura a baterem palmas.
Uma praia deserta só para mim! Tirei os calções, deixando-os na areia, corri e mergulhei. Ah!, que maravilha, senti-me no mais perfeito dos paraísos. Pus-me a nadar, acabando por me distanciar ligeiramente. Mergulhei vezes sem conta, com um pequeno cardume por perto. Que mais se pode querer da vida?, pensei deveras encantado!
O susto ocorreu assim que saí da água, o meu calção de banho tinha desaparecido! Alguém o levou por ladroagem ou malandrice sem eu ter dado conta! Numa palavra, além de nu estava longe de poder reaver a minha roupa e pertences. Ou melhor, poder até podia, na condição de fazer duzentos metros – como Deus me pôs na terra – até à zona onde tinha o meu chapéu de sol e onde, naturalmente, não era suposto fazer nudismo.
Deitei-me na areia e deixei-me ficar, de quando em vez passava um mirone e olhava. O tempo ia passando e a fome instalando. E o que dizer das minhas vergonhas ali ao sol sem protector solar? E o que dizer da gorduchinha a quem me dirigi para lhe pedir ajuda e que desatou a fugir aos gritos como se a fosse violar? Talvez tenha pensado que lhe ia saltar para a espinha, pobre de mim, tomara eu tomar conta da minha. Andava a apanhar conchinchas, coitada, deixou-as todas e fugiu, com todos os pneus a abanarem. Deve ter ficado com os músculos doridos, pobrezinha!
Quando já desesperava com sede e fome de sete dias e com os meus íntimos haveres muito vermelhos, lembrei-me da solução mais óbvia: regressar ao local de onde partira dentro de água! Meia hora depois lá atraquei com água até ao pescoço. Fui ter com um par de namorados que por ali andava e contei-lhes o que me tinha acontecido. Riram-se como tu estás a rir de mim, mas vá lá foram amáveis, tiveram a gentileza de ir buscar as minhas ricas calças. Enfiei-as dentro de água, já tranquilo e sossegado, e saí, a minha aventura tinha finalmente acabado. A rechonchuda que se assustou, essa, nunca mais a vi!

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