Um povo com alma de artista

Cada vez me convenço mais que somos um povo com alma de artista. Alma de artista em sentido lato. Não, não me refiro apenas ao artista com intuição para a música, para a literatura, para a pintura, para o teatro ou outras artes, não me refiro apenas ao artista que sofre, que chora, que cria, que se comove por qualquer coisa. Não me refiro apenas à Amália Rodrigues ou Rui Veloso, à Vieira da Silva ou Paula Rego, à Sophia de Mello Breyner ou José Saramago, ao Álvaro Siza Vieira ou Manoel de Oliveira.

 

A nossa alma de artista é muito mais ampla, atravessa gerações, classes e estratos sociais. Já transbordava de talento a nossa alma de artista quando nos pusemos a desvendar o que se escondia atrás da linha do horizonte. Basta pensarmos na Ilha dos Amores de Camões, no esoterismo de Fernando Pessoa, no Quinto Império do Padre António Vieira, ou ainda nos textos filosóficos de Agostinho da Silva.

Se olharmos com atenção vemos também o outro lado do artista. Sobra-nos improviso e uma capacidade de desenrascanço notável. A fintar o fisco, por exemplo. Correndo atrás do dinheiro fácil. Deixando que os políticos armadilhem a justiça e se eternizem no Poder. Vendo somar ilegalidades atrás de ilegalidades. Fazendo vista grossa à corrupção. Metendo cunhas. Não protestando contra a justiça que temos (ou melhor, com a justiça que não temos). Queixando-nos mas nada fazendo para que a coisas se alterem.

 

Somos mesmo um país de artistas!

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