Um país de conselheiros

Somos um país de conselheiros. Em casa, na rua, na empresa, no café, em qualquer sítio onde haja portugueses há conselhos em trânsito. Damos conselhos aos filhos, aos colegas, aos amigos, às pessoas que conhecemos e até àquelas que mal conhecemos.

  

Faz parte da nossa portugalidade. É a nossa opinião que está em jogo: o EU que sabe, o EU que aprende, o EU que ensina, o EU que não queremos ou não sabemos largar, o EU que aparece na maior parte das coisas que dizemos:

  

«Eu acho que não podes continuar a...»

«Ela não presta, filho, se eu fosse a ti...»

«Quer um conselho senhor deputado?...»

«Eu se fosse a ti não pensava duas vezes...»

 

Não quero com isto dizer que um bom conselho não possa pontualmente ser um benefício precioso. Pode, claro que sim. Mas aconselhar é dizer o que faríamos no lugar da pessoa a quem aconselhamos. Que garantia temos de estarmos certos? Ora, o facto de haver duas opiniões diametralmente opostas não significa que uma delas esteja errada. 

 

O saudoso Agostinho da Silva dizia:

 

«Desconfio dessa coisa de dar conselhos aos outros. Acho que sempre que a gente dá um conselho a outrem, é porque queríamos que quem está naquela situação nos desse aquele conselho ou qualquer coisa semelhante...».

 

Outra vez disse:

«Nenhum de nós poderá, num momento qualquer, garantir que a sua doutrina seja a que encerre a verdade.»

 

Talvez valesse a pena pensarmos nestas palavras antes de darmos o próximo conselho!

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