Piropos
Foi no primeiro dia de sol desta primavera chuvosa. Atravessei o Jardim Amália Rodrigues, que fica a norte do Parque Eduardo VII, quando reparei nelas. Eram três raparigas, entre os vinte e os vinte e cinco anos, caminhavam à minha frente e no mesmo sentido que eu. Riam-se alegremente, aquele riso de ouro que faz com que os olhos se iluminem...
Foi tudo muito rápido... No sentido inverso vinha um jovem bem-parecido e da mesma faixa etária. Uma das raparigas virou-se para trás e disse, num tom de brincadeira: «Ui, ui, ui, eu passava a mãozinha naquele rabinho!» Tal e qual... Deu-me gosto vê-los: elas a olharem para trás num ambiente de pura folia e ele a rir-se envergonhado, mas sem se atrever a virar.
Também eu sorri. Mudam-se os tempos, mudam-se as ideias, alteram-se os comportamentos. Nunca fui de mandar piropos (era demasiado envergonhado para isso), mas lembro-me de os ouvir em adolescente, e mais adiante, e de lhes achar piada, quando na verdade tinham graça. Refiro-me naturalmente a piropos espirituosos e não ofensivos. Lembro-me de ver raparigas com ar muito sério acabarem por se escangalhar a rir. Lembro-me de as ver comentar umas com as outras e de se rirem desalmadamente. Lembro-me de ver algumas dizerem que “odiavam piropos”, e eu percebia que não gostavam porque não era com elas que eles se metiam.
Piropos femininos. Quem diria?!
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