Paixão pelo corpo

No dia em que Libério foi surrado por um vizinho, mais baixo e menos encorpado, jurou a si mesmo que se ia inscrever num ginásio. A experiência correu melhor do que inicialmente imaginara, ao fim de umas semanas já praticava várias modalidades. Com o tempo e com o corpo a modificar-se, Libério começou a exibir-se, andava muitas vezes com um calção colado ao corpo e com t-shirts justíssimas.

 

Depois foi para o boxe, ganhou alguns combates e um dia perdeu um, com más consequências: partiu a cana do nariz e ficou com a cara num trambolho. Teve de ir à faca, como se diz na gíria, mas o resultado não foi muito animador, ficou com um narigão em forma de S. Quem com o Libério se cruzasse, cruzava-se primeiro com o nariz... Sem exagero!

 

Atirou com as luvas ao chão mas não perdeu a vaidade de exibir os músculos. Alguém lhe disse que as claras e os batidos (uma proteína, como passou a referir) o ajudariam a moldar o corpo. Começou por comer quatro claras e um batido ao pequeno-almoço, mas depressa triplicou as doses. Cresceu, os músculos incharam como um milagre, sem que na verdade fosse um milagre. No ginásio, olhava para a malta conhecida e para o espelho e perguntava: «O que é que acham do meu bíceps? Estou com os abdominais mais definidos, não estou?» Todos os dias ia ao ginásio, todos os dias fazia as mesmas perguntas.

 

Mas tudo o que já conquistara não lhe bastou, ouviu falar de umas injecções que faziam maravilhas, não descansou enquanto não as adquiriu. Voltou a crescer e a inchar (passou de 95 para 110 quilos), teve de se desfazer da roupa que tinha e comprar nova, dois números acima.  

 

Andou nisto muito tempo. Deixei de o ver com a namorada, uma loira espadaúda capaz de fazer parar o trânsito. As más-línguas dizem que o Libério perdeu o fulgor, que a verginha já não respondia! Verdade? Mentira? Certo, certo, é que alguém me telefonou dizendo que o Libério está no hospital com um delicado problema de fígado.