Mas ela existe

Mas ela existe.

Vizinhos, colegas, conhecidos e desconhecidos, amigos e amigos dos amigos, toda a gente quer saber onde pára a onça que com duas simples mordidas se apossou dos meus braços. Eu acho que também tu, confessa lá, queres saber. Como não posso pintá-la – faltam-me as mãos e os pincéis -, e muito menos dizer quem é, não vá ela aparecer-me novamente e de bocarra aberta, limito-me a ouvir e a escrever a imagem que me vão dando da onça... 

Há quem diga que viu uma cobra cor-de-laranja com quase cem metros a passear nos Restauradores numa manhã doce de Maio, há quem descreva uma rameira barbuda e com sete bocas, quem insinue que tudo se resume a um amor platónico mal correspondido, quem aposte numa loura má como as piranhas, quem garanta que é uma coelhinha doce como o açúcar, quem tenha visto uma galinha voadora a fazer surf no Guincho, uma marciana mascarada, uma estrela cadente à qual ninguém resiste, uma égua voadora cor-de-rosa (que devora braços e corações), uma elegantíssima ave de rapina que fala mandarim, um Frankenstein que se disfarçou de onça, e outras descrições a que te poupo. 

Não posso dizer quem é, como já referi, mas ela existe, isso posso garantir-te, posso até adiantar que a conheces. E continua a descer convencida que sobe.

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