Circuncisão (3ª parte)

A senhora enfermeira está a magoar-me!, reclamou Josué, com os olhos postos no lagartinho que tão maltratado fora. Ora, ora, não acha que está a ser um pouco mariquinhas?, retorquiu a mulher com malícia.
Quinze minutos depois saiu do hospital, largando impropérios e dizendo para si mesmo que aquela era a enfermeira mais antipática do planeta e arredores. Tresandava desconfiança e animosidade, por trás de uns olhos de égua mal parida e de uma língua de camaleão. Como se não bastasse reclamava de dois em dois minutos ou então punha-se com filosofias baratas: Pôs a pomadinha que eu lhe dei? Pelo aspecto que isto tem acho que não... Mudou a compressa? Tenho quase a certeza que não... Descansou como eu mandei? Aposto que nem me ouviu!...
Saiu do hospital a transpirar por todos os poros e com a raiva a tomar conta de todas as células do seu corpo. Afundou-se num sofá assim que chegou a casa e acabou por adormecer tragado pelo silêncio das paredes e pela cor cinzenta do dia.

Um mês depois, numa altura em que os estragos já não eram visíveis…
Preferes Praga ou Amesterdão?, perguntou ela sorrindo de felicidade. Boa pergunta, querida, tudo isto me parece ainda um sonho, respondeu ele com ar fascinado, dando-lhe um beijo nos lábios.
Tudo acontecera no terceiro tratamento, quando de tão perto que lhe sentia o cheiro do perfume, reparou subitamente no rosto lindo da enfermeira, e no corpo, que parecia na verdade ter sido esculpido pelo Criador, e nos olhos que de égua brava nada tinham. Nessa e nas noites que se seguiram – noites em que mal dormira, noites em que a imaginava nos seus braços, em beijos ardentes e em fantasias atrás de fantasias –, Josué deu conta que se tinha apaixonado por Mariana, e que outra coisa não lhe restava senão arranjar coragem e declarar-se. O que aconteceu a seguir resume-se em poucas palavras: as coisas evoluíram rapidamente, muitos encontros, muito amor e até planos para viagens românticas.
Era esta a história da circuncisão que tinha para vos contar...

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