Carta de um Morcego
Há quem fique arrepiado só de ouvir falar no nosso nome. Chamam-nos morcegos e outros nomes muito esquisitos: morcego-orelhudo, morcego rato-grande, morcego-vampiro, morcego-rabudo, e outros impropérios que não me atrevo sequer a mencionar.
Não nos sentimos inferiores aos humanos, bem pelo contrário: temos pêlos tal como vocês (vá lá, um pouco mais), temos mãos com cinco dedos (e só surripiamos para comer), damos leite aos nossos filhotes, vemos muitíssimo bem (ao contrário do que muitos tontos andam por aí a dizer), e fazemos uma coisa que mais nenhum mamífero sabe fazer: voar.
É claro que podíamos falar de muitas outras particularidades: como a de nos alimentarmos de insectos que são prejudiciais às culturas; como a de transportar o pólen das flores macho para as flores fêmea (temos um papel fundamental no equilíbrio dos ecossistemas); como a de falarmos uns com os outros numa linguagem que só nós entendemos; como a de descansarmos de cabeça para baixo ou a de hibernarmos se for necessário.
Estamos a desaparecer aos poucos por uma multiplicidade de causas quase todas com origem nos homens, que enchem hectares e hectares de terra com insecticidas, que poluem as águas, que sujam o ar que respiramos, que destroem os nossos abrigos naturais... Como se não bastasse, criaram agora a moda das turbinas eólicas cujas pás nos cortam aos pedaços e cujos sons nos provocam hemorragias internas.
E embora os outros morcegos não me tenham dado carta-branca para falar em nome deles, eu pergunto: quem são os dráculas, os vampiros, os bruxos, os sanguessugas? Nós ou vocês?
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