As Minhas Árvores
Nos meus devaneios sinto que moram árvores em mim. Coqueiros, mangueiras, imbondeiros e tantas outras. Quando era miúdo gostava de as trepar, que é coisa que as crianças e jovens não fazem agora.
De um lado da rua onde moro, muitas árvores desfolhadas, e do outro, vestidas de verde. Dois mundos aparentemente diferentes, embora todas elegantes. Carregam beleza, pássaros de todos os tipos, vêem e escutam o que se passa à volta. Têm segredos, por vezes são caprichosas. Vou contar-vos...
Na minha varanda, entre costelas-de-adão, rabos-de-burro, ficus, heras, espadas-de-são-jorge e mais algumas, ouvi a mais frondosa e esbelta das árvores pôr-se a zombar das despidas:
– Que mosca vos mordeu para andarem sem um trapo a cobrir-vos o corpo?
– À espera da Primavera, menina! – respondeu a visada, num tom desconfiado.
– Andais com as vergonhas à mostra? – insistiu a primeira.
– E vós, que andais sempre com a mesma roupa? – replicou a desnudada com uma cara muito séria.
– Inveja é coisa feia... ninguém gosta de árvores carecas!
– Temos ambas os pés no solo, dondoca!
Estavam nesta risível tagarelice, com tudo o que é bicho a ouvir, quando de repente um vento danado se instalou a soprar ferozmente, e a levar consigo tudo o que era folha. Um quase tornado, o mundo quase de pernas para o ar... Ladraram os cães, uivaram os lobos lá longe, relincharam os cavalos, grasnaram as gaivotas assustadas, trovejaram as iras do Cosmos. E o imprevisto aconteceu, amigas e amigos, não há uma só árvore com folhas, estão todas nuas, tal como vieram ao mundo.
Não tarda e chega a Primavera, vão-se pôr lindas novamente.
Carlos Porfírio
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