Anda tudo louco (3)
O bairro onde eu vivia quando era miúdo estava entalado entre dois outros, maiores e mais conhecidos. Entre estes prevalecia o espírito bairrista, quezilento... Lembro-me como se fosse hoje, cada um desses bairros procurava forma de se superiorizar – no futebol, no ciclismo, no namoro com as garotas mais giras que houvesse –, nenhuma das partes olhava a meios e fins para se destacar. Nós, os miúdos do centro, assistíamos à guerra e não nos envolvíamos, de resto éramos amigos de uns e de outros. Alguma bordoada evitámos certamente por não pertencer a nenhum dos lados!
Porque me lembro disto?
Quando me ponho a pensar nos tempos que correm, quando folheio um jornal ou assisto a um telejornal, rara é a vez que não presencio a guerra dos interesses que regem a sociedade em que vivemos. Existem mais lobbies do que cogumelos em dias de chuva: lobbies políticos, lobbies económicos, lobbies da justiça, lobbies religiosos, lobbies sindicais, lobbies desportivos (para só falar de alguns). Defendem os seus interesses próprios, pouco se importando com as consequências dos seus actos em relação a terceiros. Não visam o poder, visam condicioná-lo, visam influir nas decisões, quase sempre veladamente, para salvaguardar ou promover as suas conveniências.
Os lobbies têm geralmente porta-vozes. É curioso observá-los: falam e actuam como se fossem deuses, como se possuíssem a verdade. São míopes e conservadores, salvo raras excepções. Míopes porque só vêem o lado deles, conservadores porque são contra qualquer mudança que altere os seus interesses. Pouco lhes importa que o país saia prejudicado.
No Portugal à beira-mar plantado temos ainda, para além dos grupos de interesse, a cultura da cunha, a forma ardilosa de se obter injustamente o que muitos por mérito não conseguem. O que é a cunha? É o favorzito, é o tacho, é o mete à frente, é o deixa passar, é o faz de conta, é o borrifar para os outros e cada um que se safe.
E se em vez de os observarmos os obrigássemos a parar?
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