O oito e o oitenta

Temos uma maneira de ser muito portuguesa e um jeito que mais ninguém tem para o desenrascanço. Gostamos ou não gostamos, não há termos intermédios. Somos do tipo pão pão, queijo queijo. 

Somos desconfiados e provavelmente com razões para tal. Dentro das nossas cabeças corre o orgulho do nosso passado, da mesma forma que corre a descrença e a angústia quanto ao futuro.

Em quase tudo o que leio ou escuto vejo escarrapachado «o oito ou o oitenta». Entre este e aquele nada mais existe. Não é genuinamente português quem conseguir idealizar outras tonalidades entre o preto e o branco. A forma como a comunicação social, os analistas e o cidadão comum vêm analisando o processo Casa Pia tem sido um bom exemplo. A telenovela que se gerou à volta do ex-seleccionador nacional Carlos Queirós é outro bom exemplo: há quem o idolatre e quem o considere um mau produto de marketing. Gostamos do bota acima e do bota abaixo, não há espaço para meios-termos. Toda a gente tem uma opinião sólida sobre os assuntos que, depois de emitida, se torna uma verdade indiscutível. São tantos os exemplos que precisaria de muitas folhas para os descrever.

Com os políticos passa-se geralmente o mesmo: é assim com o TGV, é assim com o projecto do Aeroporto, é assim com a proposta de alteração da Constituição, é assim com o novo acordo ortográfico, vai ser assim com o próximo Orçamento.

Será congénito?

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