Divórcio em Buda

Talvez? Não seria médico, se não conseguisse salvá-la. Era um caso de escola... ensina-se em todo o lado, um desses casos em que, efectivamente, sabemos qualquer coisa, sabemos ajudar. Largo a seringa, sento-me a seu lado, tomo-lhe o pulso, olho-a. Com um lenço limpo a espuma dos lábios. Olho-a longamente. Nesse transe, sei que nada farei para salvar Anna. Escolheu aquele caminho, já está longe o mais difícil, deu o primeiro passo. Não dá conta de mais nada. Foi com passo leve que pôde, como num sonho - num sonho, de facto, no sentido próprio do termo -, passar da vida à morte. Está flutuando na inconsciência, um pouco assim como viveu... Não poderia ter partido de forma mais bela... Seguro-lhe a mão, o pulso está cada vez mais fraco, mais irregular, mais cansado. É um ritmo estranho. Já sei que não vou telefonar à ambulância.

Divórcio Em Buda, de Sándor Márai, o húngaro que escreveu As Velas Ardem Até ao Fim. Ficamos a amar ainda mais a literatura quando acabamos de ler um livro como este.
 

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