Cozido Político à Portuguesa

Uma amiga sugeriu-me que escrevesse um post sobre as negociações do governo com a oposição de modo a viabilizar as contas do Estado no Parlamento. Para me ajudar deixou-me o título: Cozido Político à Portuguesa. Para me facilitar o trabalho enviou-me por e-mail um parágrafo de uma crónica de Eça de Queiroz (As Farpas, 1871):

 

O país perdeu a inteligência e a consciência moral. Os costumes estão dissolvidos, as consciências em debandada, os carácteres corrompidos. A prática da vida tem por única direcção a conveniência. Não há princípio que não seja desmentido. Não há instituição que não seja escarnecida. Ninguém se respeita. Não há nenhuma solidariedade entre os cidadãos. Ninguém crê na honestidade dos homens públicos.

 

Confesso que fiquei sem saber o que dizer: se um cozido à portuguesa –  feito numa panela grande com muitas carnes, muitos enchidos e muitos vegetais – é saboroso mas ao mesmo tempo indigesto, de um Cozido Político à Portuguesa ninguém sabe na verdade o que pode acontecer. Os Partidos falam em colaborar mas a lógica é de confronto. Ninguém o assume, mas há quem espere resultados antes e depois do jogo terminar.

 

Prefiro por isso, minha amiga, o cozido à portuguesa: é mais pesado, está carregadinho de colesterol, é certo que a digestão vai ser lenta, arrisco mesmo a dizer que a tensão arterial vai trepar umas décimas. Perdoo o mal que me faz pelo bem que me sabe!

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